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O lado sombrio do mundo de transações algorÃtmicas nos mercados financeiros esteve em evidência duas vezes, semana passada. Primeiro foi a divulgação do explosivo livro de Michael Lewis's, “Flash Boys: Decifrando o Código do Dinheiro” (Flash Boys: Cracking the Money Code), que destaca várias práticas preocupantes num setor que responde por cerca de metade do que é negociado nas bolsas de valores de Nova York e Londres. Segundo, o anúncio do FBI, dia 2 de abril, de que daria inÃcio a uma investigação criminal sobre malfeitos no setor.
Durante os 18 anos em que trabalhei no JP Morgan, e por mais de uma década, depois, observei e participei da inexorável transformação dos mercados, possibilitada pelos avanços da tecnologia. Seu papel principal de aumentar o capital, alocar recursos de forma eficiente e mitigar riscos tem sido lenta e seguramente nocauteado por uma cacofonia frenética de especulação.
Os mercados de capital não são mais o meio para responder à s necessidades de alocação de capital da economia real, mas tornaram-se um fim em si mesmos. Esse fim é o “negócio” da especulação, que está completamente desequilibrado e, portanto, deixou de ser saudável para a economia real.
Os contratos de derivativos, do modo como foram pensados e inicialmente utilizados, conectavam mercados de capitais nacionais a um mercado global mais eficiente e interconectado, para o benefÃcio de mutuários, investidores e mesmo intermediários.
Eles foram também usados para gerenciamento de risco genuÃno, em que uma empresa de transportes, por exemplo, compra um fundo de hedge de petróleo para garantir custos operacionais previsÃveis. Mas tornaram-se a ferramenta preferida de especuladores agressivos, em mega-escala.
Em nenhuma área das finanças a tecnologia teve maior impacto do que no crescimento das negociações algorÃtmicas, conhecidas como transações de alta frequência. Inicialmente, algoritmos computadorizados aumentaram a eficácia dos operadores humanos, reforçando a liquidez e reduzindo custos de compra e venda.
Com o tempo, essas mesmas estratégias de negócio quantitativas transformaram-se em centros de transações especulativas proprietárias, à s vezes de natureza bastante predatória. Seu domÃnio no mercado já levou a "falhas flash" como a de maio de 2010, quando o Ãndice Dow Jones caiu 9% em questão de minutos, varrendo bilhões do valor das empresas.
Embora as transações impulsionadas por algoritmos tenham várias aplicações legÃtimas, as transações de alta frequência são, no seu pior, uma frente contÃnua e sistemática de fluxo de pedidos. Chamamos isso de roubo. Não admira que o FBI esteja investigando o setor.
Cientistas que pesquisam sistemas entendem que existe, em qualquer sistema, uma necessidade de equilibrar a eficiência do sistema (resultando em alto rendimento) com a resiliência do sistema (resultando na capacidade de resistir a choques).
No caso dos mercados financeiros, contudo, a balança se inclinou demais em favor da velocidade e aparente eficiência, deixando os mercados altamente frágeis e mais suscetÃveis a entrar em colapso.
Altos nÃveis de alavancagem financeira torna-os vulneráveis a eventos como a crise financeira de 2008 e os numerosos minicrashes que ocorreram desde então, e continuam a ocorrer.
Há um contra-argumento de que o aumento do volume de transações é bom, uma vez que auxilia os mercados a absorver e responder a choques. Mas isso é confundir volume com liquidez.
O primeiro desaparece em tempos de crise, conforme os especuladores desligam seus algoritmos e sacam sua (falsa) liquidez do mercado. É pouco mais que uma miragem. Isso pode disparar um efeito cascata, à medida que os investidores de dinheiro real recuam em legÃtima defesa e, à s vezes, fogem em pânico. De repente, quando é mais necessário, os mercados ficam vazios da verdadeira liquidez.
Essa é a razão pela qual sou um defensor da polÃtica que ocupa as manchetes no momento – a taxa sobre transações financeiras ou taxa Tobin, consistente com a iniciativa que 11 paÃses europeus estão implementando, de uma TTF entre 0,01% e 0,1% em transações de ações, tÃtulos e derivativos.
O imposto recai desproporcionalmente sobre as especulações de curto prazo, como as transações de alta frequência e, para eliminá-las, é provavelmente muito mais eficaz do que complexas camadas de novas regulações.
A taxa irá, como disse James Tobin 40 anos atrás, quando propôs a TTF, jogar “areia nas engrenagens” dos mercados financeiros internacionais, encorajando os participantes do mercado a mudar na direção de estratégias de investimento genuÃno, de longo prazo, nas quais as consequências da taxa têm pouco peso.
Se a TTF causar uma mudança que reduza, mesmo que modestamente, a fragilidade dos mercados e o risco de futuras crises mais profundas – altamente prejudiciais à eficiência de longo prazo da economia real, a única que realmente importa –, terá valido a pena.
Se, no processo, a TTF encorajar alguns jovens a aplicar seu talento criativo em algo mais produtivo à sociedade que a especulação, tanto melhor. E podemos certamente fazer bom uso dos ganhos adicionais, calculados em dezenas de bilhões de dólares.
Os 11 paÃses europeus que estão implementando a TTF não estarão abrindo um precedente. Numerosos paÃses, inclusive aqueles com mercados crescentes, como Hong Kong, Cingapura, Ãfrica do Sul, Ãndia e SuÃça, têm TTFs que arrecadam para seus governos, anualmente, receitas de bilhões.
Mesmo os dois maiores centros financeiros do mundo, que se mantêm em oposição à TTF europeia – os EUA e a Inglaterra –, já têm suas próprias pequenas TTFs, embora não costumem reconhecer.
Raramente, ou nunca, se ouviu uma palavra sequer sobre problemas causados à economia real, ou mesmo aos mercados de capitais, pelas taxas sobre transações já existentes e em bom funcionamento, porque elas são praticamente invisÃveis, perfeitamente integradas em sistemas de negociação e práticas de investimento. Contudo, elas deveriam ser, igualmente, aplicadas em todos os instrumentos de negociação.
Como um ex-profissional do setor bancário, compreendo perfeitamente que a TTF não é, como esperam alguns, uma cura milagrosa para todos os erros de Wall Street. Isso só pode ser conseguido por uma reforma estrutural, como entendia Theodore Roosevelt.
Mas é um captador de recursos comprovado, e uma intervenção polÃtica afiada para ajudar a combater o efeito negativo causado em toda a economia por um setor financeiro dominado por uma especulação corrosiva.
John Maynard Keynes, ele próprio um especulador, foi talvez quem disse da melhor forma: "Os especuladores podem não causar danos, como bolhas, num fluxo constante de empreendimentos. Mas a questão fica séria quando os negócios tornam-se a bolha, num redemoinho de especulação. Quando o desenvolvimento do capital de um paÃs torna-se subproduto das atividades de um cassino, as coisas provavelmente não vão bem."
Uma lição que ignoramos por nossa conta e risco.
A campanha pelas TTF demanda uma taxa sobre as transações financeiras internacionais – mercados de câmbio, ações e derivativos. Com alíquotas menores que 1%, elas incidirão sobre um volume astronômico de recursos pois esses mercados giram trilhões de dólares por dia.
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