Pesquisa da Oxfam Brasil [Leia Mais]
Austeridade é política de corte para satisfazer o mercado financeiro. Entrevista com economista Marcelo Milan. [Leia Mais]
Como os chacais desafiam o funcionamento das instituições políticas e jurídica em busca de ganhos fartos. [Leia Mais]
Ministério Público do Rio Grande do Sul requer que Fifa e Internacional devolvam dinheiro gasto com estruturas temporárias da Cop [Leia Mais]
19.08.2016 - Gestos promove tuitaço por democracia econômica e em defesa do SUS [Leia Mais]
04.08.2016 - Devo não nego, pago quando puder [Leia Mais]
15.07.2016 - Gestos encaminha pedido de audiência pública para debater TTF no Congresso Nacional [Leia Mais]
05.07.2016 - Projeto Robin Hood quer reduzir desigualdades [Leia Mais]
04.07.2016 - A crise do capitalismo financeiro vai ao cinema [Leia Mais]
22.06.2016 - Mastigando o Economês: Meta Fiscal e Dívida Pública [Leia Mais]
06.06.2016 - Educação Política e Econômica, eis a nossa proposta! [Leia Mais]
16.05.2016 - A Consistência dos Inconsistentes [Leia Mais]
13.05.2016 - Os Panama Papers e a necessidade de monitorar o fluxo de capitais [Leia Mais]
11.05.2016 - Os efeitos positivos dos tributos sobre transações financeiras (TTF) no Brasil [Leia Mais]
03.05.2016 - IOF para compra de moeda estrangeira sobe de 0,38% para 1,10% [Leia Mais]
02.05.2016 - Novo Marco Regulatório das ONGs assinado pela Presidenta Dilma é debatido no Recife [Leia Mais]
20.04.2016 - TIRADENTES, PIONEIRO NA LUTA CONTRA OS IMPOSTOS [Leia Mais]
14.04.2016 - Artigo - IOF: o que é e o que pode ser? [Leia Mais]
01.04.2016 - É tudo verdade! [Leia Mais]
29.03.2016 - Combater a sonegação também é fazer justiça fiscal [Leia Mais]
28.03.2016 - Democracia e Direitos para uma Política Madura [Leia Mais]
11.03.2016 - JUSTIÇA FISCAL E O LUCRO DOS BANCOS [Leia Mais]
01.03.2016 - Com animação fica mais fácil de entender [Leia Mais]
24.07.2015 - Terceira Conferência do Financiamento para o Desenvolvimento Desaponta e perde Ambição [Leia Mais]
O economista e consultor da ONU Ladislau Dowbor faz uma distinção bem oportuna sobre duas formas de medir a desigualdade: uma se refere à renda - dinheiro que entra em forma de salário, aluguel, lucros etc, e que permite comprar bens como casa, carro, ações, e aumentar a conta bancária; e outra que constitui a chamada riqueza, ou patrimônio familiar.
Dowbor faz essa distinção ao introduzir, em seu site [dowbor.org], artigo a respeito de pesquisa sobre a distribuição da riqueza global em 2012. O estudo aponta que 69,3% dos adultos do mundo (na base da pirâmide, mais pobres), possuem apenas 3,3% do patrimônio, “concentração de riqueza acumulada incomparavelmente superior à da renda”, e recorre ao coeficiente de Gini para ilustrar sua afirmação. “Enquanto tipicamente o Gini que mede a concentração de renda está na faixa de 0,30 a 0,45 (e 0,50 no Brasil), a concentração da riqueza se situa no mundo em torno de 0,90, desigualdade absolutamente insustentável.”
O estudo reforça a urgência de implementar, no Brasil, um sistema tributário progressivo, que cobre uma contribuição maior de quem tem mais, assim como o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGV), previsto na Constituição de 1988 e até hoje não regulamentado. E de taxar as transações financeiras (TTF), nacionais e internacionais, revertendo esses recursos para o desenvolvimento humano e a preservação ambiental. A seguir, o artigo.
“O relatório sobre a riqueza global, em 2012, do banco Credit Suisse (The Credit Suisse Global Wealth Report 2012) traz um quadro bastante amplo e esclarecedor da distribuição da riqueza (patrimônio) das pessoas adultas do mundo. A riqueza global foi estimada em USD$ 223 trilhões em 2012 (meados do ano). Como havia 4,59 bilhões de pessoas adultas no mundo, a riqueza per capita por adulto foi de USD$ 49.000,00 (quarenta e nove mil dólares).
Mas, evidentemente, existe uma distribuição desigual desta riqueza. Na base da pirâmide estão as pessoas com a riqueza menor do que 10 mil dólares. Nesta imensa base havia 3,184 bilhões de adultos, em 2012, o que representava 69,3% do total de pessoas na maioridade no mundo. O montante de toda a “riqueza” deste enorme contingente foi de USD$ 7,3 trilhões, o que representava somente 3,3% da riqueza global de USD$ 223 trilhões. Ou seja, pouco mais de dois terços (2/3) dos adultos do mundo possuÃam somente 3,3% do patrimônio global da riqueza. A riqueza per capita deste grupo foi de USD$ 2.293 (dois mil e duzentos e noventa e três dólares).
No grupo de riqueza entre USD$ 10.000,00 e USD$ 100.000,00 havia 1,035 bilhão de adultos, o que representava 22,5% do total de pessoas na maioridade no mundo. O montante de toda a riqueza deste contingente intermediário foi de USD$ 32,1 trilhões, o que representava 14,4% da riqueza global. Ou seja, pouco menos de um quarto (1/4) dos adultos do mundo possuÃam 14,4% do patrimônio global da riqueza. A riqueza per capita deste grupo foi de USD$ 31 mil.
No grupo de riqueza entre USD$ 100.000,00 (cem mil dólares) e USD$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares) havia 344 milhões de adultos, o que representava 7,5% do total de pessoas na maioridade no mundo. O montante de toda a riqueza deste contingente intermediário foi de USD$ 95,9 trilhões, o que representava 43,1% da riqueza global. Ou seja, pouco menos de um décimo (1/10) dos adultos do mundo possuÃam 43,1% do patrimônio global da riqueza. A riqueza per capita deste grupo foi de USD$ 279 mil.
Os milionários, aqueles com patrimônio acima de USD$ 1.000.000,00 (um milhão de dólares) eram somente 29 milhões de adultos, representando 0,6% do total de adultos do mundo. Todavia, este pequeno grupo de pessoas concentrava 39,3% da riqueza mundial, um montante de USD$ 87,5 trilhões, o que representava 39,3% da riqueza global. A riqueza per capita deste grupo foi de USD$ 3.017.241,00 (três milhões, dezessete mil e duzentos e quarenta e um dólares).
O que mais chama a atenção na distribuição da riqueza é que os 29 milhões de adultos do alto da pirâmide possuÃam um patrimônio superior a 12 vezes o patrimônio da base de 3,2 bilhões de pessoas. Os dados também mostram que os contingentes intermediários estão crescendo e que a riqueza global aumentou no passado e tende a aumentar nas próximas décadas. Em 2000, a riqueza global era de USD$ 113,4 trilhões, uma média de USD$ 30.700 por adulto, em um total de 3,6 bilhões de pessoas na situação de maioridade, na virada do milênio.
Contudo, todo o montante atual de USD$ 223 trilhões de riqueza para 4,6 bilhões de adultos, em 2012, está sustentado em bases frágeis, pois a riqueza do ser humano (em sua forma piramidal) está alicerçada sobre bases naturais degradas pelas atividades antrópicas. A pirâmide da riqueza humana tem crescido e se ampliado sobre uma base de pauperização dos ecossistemas. Não é improvável que, em algum momento, a pirâmide possa afundar por falta de sustentação ecológica ou possa implodir por falta de justiça redistributiva em sua arquitetura social.
Enquanto o capital natural tem sido depredado, a riqueza global (e o consumo) dos seres humanos cresceu cerca de 50% no século XXI, passando de uma média per capita de US$ 30.700,00 no ano 2000, para US$ 43.800,00 em 2010 e para US$ 49.000,00 em 2012. Todavia, as necessidades e os sonhos humanos são ilimitados e os de baixo da pirâmide aspiram o padrão de consumo daqueles do meio e do topo do status social. Mas é impossÃvel haver um crescimento ilimitado da riqueza material em um planeta finito e a história mostra que, em vários momentos, pirâmides que pareciam sólidas se transformam em castelos de areia.
Não é sem surpresa que os indignados do mundo estão se unindo, se mobilizando e corroendo as estruturas piramidais das sociedades árabes, espanhola, europeia, dos Estados Unidos etc. Também não é sem surpresa que a indignação tenha chegado ao Brasil, pois existe um mal-estar geral com o modelo de desenvolvimento econômico, com o funcionamento da democracia, com a imobilidade urbana e social e com a relação humanidade/natureza. Evidentemente, este mal-estar aparece de maneira difusa e sem alternativas claras de novos rumos.
Mas o que o mundo precisa não é manter o processo de ampliação da pirâmide da riqueza e do consumo e, sim, construir relações mais horizontais, simples e justas entre as pessoas e entre as pessoas e o meio ambiente.”
Referência: The Credit Suisse Global Wealth Report 2012. Zurich, Switzerland. 20 September 2012
Â
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências EstatÃsticas – ENCE/IBGE.
Â
A campanha pelas TTF demanda uma taxa sobre as transações financeiras internacionais – mercados de câmbio, ações e derivativos. Com alíquotas menores que 1%, elas incidirão sobre um volume astronômico de recursos pois esses mercados giram trilhões de dólares por dia.
http://www.outraspalavras.net